sexta-feira, junho 21, 2013

Pelas janelas a vida tem sua corredeira,
como um rio poluído multidões escorrem pelas ruas da cidade.
Dentro do ônibus apenas o barulho do motor,
são parte da cidade, parte de mim.

Os pensamentos não encontram critério,

escorrem pelos atos,
palcos,
lembranças.
Debaixo dos cabelos
por entre
os ouvidos,
Como um rato empoleirando em ratoeiras
de pelos eriçados e salivas infectas.

O olho do mundo esta por outros caminhos,

percorrem outras searas
(esperanças, bombas, combates...)

Enquanto os meus olhos confundem-se com a hipocrita avenida Antonio Carlos Magalhães,

e teus rastros cinzentos,

Estranha cumplicidade.


segunda-feira, março 04, 2013

vestigios


Fui tocado pela ventania,
não pude evitar.
Encontrar entre os teus olhos a lisura da carne
terminar entre os teus dedos,
abocanhar a tua pele, sabor de rua.

A noite dança quando escuto a sua voz?
O que encontro?
Na descida da ladeira talvez,
Na voragem do cotidiano
te quero, persistir na busca
perceber a rota,
e assim a vida seguir.

Talvez pequena, talvez grande.
Mas viva de alma.
E de cama.

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Leituras



Não sou lido e preciso?
Leitura é coisa banal,
melhor passear obscuro
nos jardins do silêncio:
Imortal.

Não sou lido e não quero
Leitura assim indiferente,
Prefiro o silêncio de um verso
preciso aqui na minha mente.

Deixar os silêncios do tempo
O esquecimento dos links,
Acontecer pelo tempo
em sua plenitude e vazio

sábado, fevereiro 23, 2013

Asas do tempo

        As pessoas vão ficando desconfiadas com a velhice. Alguma coisa nelas mudam, as palavras ganham um ar aspero, a voz uma circunspecção funebre, o olhar uma lonjura de medos. Tantos desenganos vida afora, tantas magoas solapadas pelos intersticios da pele que a fala é concebida em contornos aspéros e os dois olhos pouco se atrevem a nobreza singela de um olhar ameno. As vezes observava após os longos monólogos de meu avô uma dureza quase lagrima dentro dos teus olhos, nossos olhos se tocavam por leves segundos e as transformações sutis em sua face eram o suficiente para a tristeza calar em mim. Nessas horas ele se levantava e ia fazer os teus afazeres, nunca foi afeito a sentimentalismos, a sua educação militar, a sua vida sofrida, endureceu. E haveria outro modo? Observar as tristezas da velhice é como observar o teu espelho futuro, enxergar tuas duvidas, se perceber quase inócuo por horas. Aqueles velhinhos recurvados ou garbosos, circunspectos ou risonhos guardam uma vida entre as tuas marcas, os teus sorrisos, as tuas palavras, em si. E por mais que deixemos nossos ouvidos surdos diante dos teus conselhos, por vezes o peso da experiencia recai sobre nós como uma vertigem, através de tuas palavras mansas ou duras dirigidas no momento certo. Saramago morreu escrevendo um livro, Vinicius criançou a medida dos anos, e os herois da juventude de setenta hoje perambulam por nossas imaginações, sonhos e TV em uma eterna juventude. Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Zé ainda prescrutam a vida reinventando os teus antigos modos em uma eterna busca. Acabará com a morte, as coisas não tem fim a não ser pela desistencia.
       As pessoas falam tanto do medo da morte e de uma velhice tranquila, mas acaso o que seria uma velhice tranquila? Acaso há? Acaso terá fim os nossos medos repentinos, as nossas inseguranças incofessaveis, as nossas angustias mais inexprimiveis? E o que dizer da solidão? Conversar com os mais velhos é uma experiencia dolorosa as vezes, talvez não tanto pelas diferenças dos tempos, mas por nossa condição humana. Ouvir aquelas parlamentações interminaveis, aquelas historias dos aureos tempos, aquelas orquestrações do imaginário nos dá uma sensação mista de enfado, medo e disputa. Acaso seremos iguais a eles? Teremos nossas histórias? Seremos ouvidos por nossos netos? São questões endereçadas ao Tempo. E o Tempo de uma forma ou de outra, sempre nos responde. Se acaso viver é responder.

“Olhei os teus olhos velhos,
E vi um silêncio esplendor
Serão as asas do tempo,
Ou as mil dores do amor?”




Gabriel Vieira de Carvalho

terça-feira, fevereiro 19, 2013

Na vida


Depois que a cadavérica vontade
Implantou-se pelas delicias da vida,
Alguma coisa retrocedeu.

não pude evitar o silencio, a voz, a loucura...

mas enquanto a verdade me assalta,
E o desandar da carruagem me afoga,
Procuro atracar meu porto nas rodas da vida.

sábado, janeiro 26, 2013

Cidade

Toma esta voz como música
E esquece os dias pelos desvãos do mundo:
Deixa a noite entorpecer.

Eu aqui no meu canto,
sincero silente e sozinho
Cruzo os braços, ergo a voz
Estremeço
e tardo por entre os caminhos.

e os caminhos retornam,
pela vida
por entre as cidades
agora por estas letras
afora as nossas saudades.

E há encontro,
e há o mundo.
E há.

Espera o silêncio crescer
Em ti por todo lugar
As coisas terminam bem,
Pode acreditar.


sexta-feira, julho 15, 2011

Tardio

Depois de um tempo

O que resta são encontro de lembranças

Desencontro de palavras

E silêncio.


E não há nada a desentranhar o que se foi


A cerveja no copo,

O silêncio irrequieto

Apenas atesta uma cumplicidade passada

Que fossiliza ao fundo dos olhos

E decai aos poucos

Como carbono catorze.


E o que é estranho

não é perceber o que menos esperávamos

Ou ver no outro o que sequer imaginaríamos,

Mas este passado em comum,

Aonde os sonhos tanto se cruzaram

E agora resultam ôcos

Cada qual embrulhado em seu canto

Como um pacote, um achado arqueológico

Em um beco sem saída da memória,

Nesta amplidão a que chamamos Eu.