sexta-feira, dezembro 29, 2006

mais um dia desses de lua cheia
rogo,

pelo simples ato de rogar

acomodo-me num banco
encrespado
de talhas e mais talhas,

e ouço do fundo do mar um zunido

no alumiar da matreira vida,
erguida
em ar e poeira de ferro

prossigo o caminho de matos podres e calcificados

penso no alto do cruzeiro infindavel,
inalcansavel também,
e interpelo por mais um dia de paz

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Sertão

o sol com seu arder lisongeiro
soltava rajadas de luzes incadescentes
em meio ao vento com suas lufadas intermitentes
que fazia voar galhos rangentes
enquanto os homens lavravam no canavial

a noite chegava de forma espessa
quando as crianças voltavam em tortuosos caminhos
cantando os mais torrentes pinhos
com apenas um a tocar viola
encarapitadas em cima de burros
que saculejavam num caminhar soturno

à madrugada o frio aluía
as juntas de antigos guerreiros
que outrora em tempos imemoriais
lutavam contra cães-de-guarda imperiais

e assim o vilarejo dormia
com casas em demasia
enfileiradas à espera do sol

segunda-feira, dezembro 18, 2006

nostalgia

a rua passa vazia
e nem penso em te-la a meu alcance
fico cá sentado
esperando que as coisas aconteçam
meio que em um desenlace
que me mostre algo de errante

o cheiro é-me estranhíssimo,
pois mal sinto sua feição
não que seja sinéstesico,
mas que o que me é de analgesíco
faz meus sentidos em leito
confundirem-se com minha visão

e os carros ainda não passam
afinal é domingo a tarde
e é tarde
para algo de mais acontecer

mas eu me vou e permaneço
sentado no mesmo lugar
e nestes versos longos
quem sabe me hei de encontrar

quinta-feira, dezembro 14, 2006

tranloucado

no agora,
o aqui é outro lugar
que eu possa
saír
e sonhar
com um mundo equidistante

no momento
o lamento
é desimportante
tanto no agora
quanto no antes
deu ter essa tranlocação

no instante
é estanque o desespero
em que o poeta matreiro
teima em poder sonhar
com um mundo um tanto roseiro

quarta-feira, dezembro 13, 2006

dos versos de verdade

gosto quando o ritmo corre
e o papel chega a amassar
da tamanha pressa que sobrevém

e é bom quando as mãos se cansam
mas os versos se mantém

melhor é quando paramos um pouco
relemos o já escrito
apagamos algo de torto,
e construímos um mais bonito

(são dos versos de verdade
que falo nesses escritos)

terça-feira, dezembro 12, 2006

nas tuas brandas calmarias nefastas
jaz meu leito profano
e não importa o tamanho do desengano
o engano é pranto,
que me chamarei

e me chamarei perto
tal como se faz quando se esta longe
não resistirei aos falsos jubilos de teu nome
mas não me entregarei
ao encouraçado estampido de tua buceta
e nem de tuas medianas tetas...

serei tal como sou e fui
o eterno ser
com uma mudança que me seduz...

segunda-feira, dezembro 11, 2006

não temeras mais o tempo
porque este quando passa não volta atrás
vive só o momento,
mas não sem se importar com os demais

semeias o vento onde possas colher
espera a nuvem coalhar de tanto chover
há de chegar seu momento
mesmo após todo esse tormento

o dia fará aparecer o sol novamente

domingo, dezembro 10, 2006

princípio

Você não me conhece
sabe da vida alheia, sim sabe,
mas não me conhece.
Príncipio, horas, vento.
o tempo é de duvidas.
Você não se conhece
mas precisa se conhecer?
não... o tempo é de duvidas
mas a vida prossegue...
sabe do vento, horas, sombra, ser, ou não
mas não o conhece
sabe da chuva, nuvens, vento
mas seu tempo não conhece
não conhece a vida, a lombra, o sol
mas mesmo assim tece.
sem sentido eira nem beira...
mas assim mesmo tece...
o tempo é de duvidas, lombra, lua
você não me conhece
sabe do jogo, competir ganhar, ou não
mas a vida prossegue...
sombras, vento, medo...
o sol de manhã aparece,
mas e daí?
foi-se o sol, o mar, a luz, a vida
restaram o tempo...
e a poesia

quarta-feira, dezembro 06, 2006

recado ao mundo

não é por eu ser um poeta
pequeno de fim de sábado
que não posso lhe contar
metade de umas verdades:

Mundo dos loucos ou não

me digas porque é injusto
e quantos homens lhe são caros,
mas fale por intermédio
de Deus, que é meu padastro,

Mas você não vale o prato
que come
(ou já comeu)
por ter dado espaço ao homem
te ter em inigualdade

"o mundo não vale o mundo"

Me digas porque a noite
deixa os buracos que tens em visto
assolar nossas mulheres
com seus homens malditos,
que talvez por um não dito
deita-se acima delas
e rola
num rala-e-rola
malfadado à prisão voraz

mas isto já é mais que um terço,
mundinho,
deste poema que fiz sem vinho,
ao meu lado pra intoxicar-me.

Meu mel enegreceu
sobro este fel em versos feitos
a boca da noite escura
(na frente do computador,
que ainda te perdura)
mundo de horrores à candura

não teime em justificar
que a culpa é só dos homens
que vivem a te maltratar

e ainda acharei o poeta
(que disso só tem os metros)
que a vós falou, mundo desnudo,
"serás do que o homem fizer"

não há como acreditar
sem até mesmo pre-julgar!
tal afirmação
oh mundo desnudo
ao menos abaixe o preço do pão

domingo, dezembro 03, 2006

dadiva

Horas ao vento relva a tarde desta manhã
e eu ao relento penso no enclaustro da tal da terçã

poesia infinda finda a curva desta cidade
e nessa loucura penso em ter uma nova vaidade

drogas amargas acabam com muito de meu tempo
e nesse intento penso em parar até de beber

mas e daí?
na mais hercúlea manhã do proximo domingo
pensarei no que fazer.

sábado, dezembro 02, 2006

Mamãe, estás chorando?(à Brisa)

mamãe coragem
eu não sou mais aquela menininha
sinto muitas saudades
de quando comigo se comovia

Será que ainda vemos novela?
Será que ainda damos risada?
Será que ainda gostas de chico Buarque?
(a flor da pele)

Mamãe não sinta saudades
encare agora como sou aqui...
minha mãe eu não sou mais daquela idade
por favor...
me entenda
Não sou como a ti...