terça-feira, outubro 13, 2009

Três quartetos

O verso é o terreno da calma
Não cabe a embriaguês do mar
Por tal não traduzo minha alma
Prefiro em tua noite embalar.

O mar é o lar das tempestades
Verdadeiro porta-voz da imensidão,
E o verso quando fala não sabe
decifrar o mar em teu bordão.

Por isso quero um beijo teu menina!
Quem sabe nesse enleio vá encontrar
O verso que trespasse tal enigma
O verso que traduza a voz do mar.

2 comentários:

Anônimo disse...

ANÁLISE

Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
Fernando Pessoa, 12-1911

Anônimo disse...

Agora, que o poeta morreu,
Não tenho mais para quem comentar,
Foi especialmente difícil dizer alguma coisa...
Então me veio pessoa,
Me dizer o que eu já não sei falar.

N.S