sexta-feira, dezembro 18, 2009

O fogo (do poema de Vinicius denominado Os Quatro Elementos)

O sol, desrespeitoso do equinócio
Cobre o corpo da Amiga de desvelos
Amorena-lhe a tez, doura-lhe os pelos
Enquanto ela, feliz, desfaz-se em ócio.

E ainda, ademais, deixa que a brisa roce
O seu rosto infantil e os seus cabelos
de modo que eu, por fim, vendo o negócio
Não me posso impedir de pôr-me em zelos.

E pego, encaro o sol com ar de briga
ao mesmo tempo que, num desafogo
Proibo-a formalmente que prossiga

Com aquele dúbio e perigoso jogo...
e para protegê-la, cubro a amiga
Com a sombra espessa do meu corpo em fogo.

Um comentário:

Agnes Cajaiba disse...

sim, essa carta é incrível e sempre volto a ler. Rilke sabe das coisas e tem os melhores conselhos. ele é atemporal e gênio, como tantos outros. enfim.