Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida?
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
-------------------- Vinicius de Moraes
sábado, dezembro 26, 2009
sexta-feira, dezembro 18, 2009
O fogo (do poema de Vinicius denominado Os Quatro Elementos)
O sol, desrespeitoso do equinócio
Cobre o corpo da Amiga de desvelos
Amorena-lhe a tez, doura-lhe os pelos
Enquanto ela, feliz, desfaz-se em ócio.
E ainda, ademais, deixa que a brisa roce
O seu rosto infantil e os seus cabelos
de modo que eu, por fim, vendo o negócio
Não me posso impedir de pôr-me em zelos.
E pego, encaro o sol com ar de briga
ao mesmo tempo que, num desafogo
Proibo-a formalmente que prossiga
Com aquele dúbio e perigoso jogo...
e para protegê-la, cubro a amiga
Com a sombra espessa do meu corpo em fogo.
Cobre o corpo da Amiga de desvelos
Amorena-lhe a tez, doura-lhe os pelos
Enquanto ela, feliz, desfaz-se em ócio.
E ainda, ademais, deixa que a brisa roce
O seu rosto infantil e os seus cabelos
de modo que eu, por fim, vendo o negócio
Não me posso impedir de pôr-me em zelos.
E pego, encaro o sol com ar de briga
ao mesmo tempo que, num desafogo
Proibo-a formalmente que prossiga
Com aquele dúbio e perigoso jogo...
e para protegê-la, cubro a amiga
Com a sombra espessa do meu corpo em fogo.
sábado, dezembro 12, 2009
Menina se quer casar
Menina se quer casar,
Não busque amor em todos
Menina se quer casar
Procure um homem de Touro.
Procure homem de Touro
Que te cuide com carinho
Que leve café na cama
Olhe por seus caminhos
Procure um Taurino forte
Daqueles firmes e belos
Soltando pelas ventanas
Um amorzinho singelo.
Singelo, mas decidido
Sem juras, badalações
Amor transmitido nos atos
Resistente a furacões.
Persiga menina, Ache
Este nascido da terra;
Detentor de tuas certezas
Seja na paz, seja na guerra.
Mas veja menina, relaxe
Se acaso não conseguir.
Se a vida não lhe ofertar
Há o libriano aqui.
Não busque amor em todos
Menina se quer casar
Procure um homem de Touro.
Procure homem de Touro
Que te cuide com carinho
Que leve café na cama
Olhe por seus caminhos
Procure um Taurino forte
Daqueles firmes e belos
Soltando pelas ventanas
Um amorzinho singelo.
Singelo, mas decidido
Sem juras, badalações
Amor transmitido nos atos
Resistente a furacões.
Persiga menina, Ache
Este nascido da terra;
Detentor de tuas certezas
Seja na paz, seja na guerra.
Mas veja menina, relaxe
Se acaso não conseguir.
Se a vida não lhe ofertar
Há o libriano aqui.
quinta-feira, dezembro 03, 2009
Santo Amaro (de Augusto Alves de Sant'ana)
Meu Santo Amaro belo, amigo e hospitaleiro
Dos ricos massapês, dos engenhos antigos
Dos nobres, dos barões, de um povo prazenteiro
Que a todo instante vive a granjear amigos.
Bem vês que tenho orgulho enorme, sobranceiro,
De ver por toda a parte, em teu torrão, abrigos,
Pois sei bem Tu quem és, o grande cavaleiro
Que vence com amor os fortes inimigos.
Nos teus canaviais de leque aberto ao vento
Sinto o cheiro do mel a adocicar-te a vida.
O teu maculelê, com ginga e encantamento,
Lembra a tua capoeira alegre e divertida.
Na tua catedral está meu pensamento
E em todo o teu passado, enfim, terra querida.
--------------------------------------- Salvador, 5 de maio de 1977.
Dos ricos massapês, dos engenhos antigos
Dos nobres, dos barões, de um povo prazenteiro
Que a todo instante vive a granjear amigos.
Bem vês que tenho orgulho enorme, sobranceiro,
De ver por toda a parte, em teu torrão, abrigos,
Pois sei bem Tu quem és, o grande cavaleiro
Que vence com amor os fortes inimigos.
Nos teus canaviais de leque aberto ao vento
Sinto o cheiro do mel a adocicar-te a vida.
O teu maculelê, com ginga e encantamento,
Lembra a tua capoeira alegre e divertida.
Na tua catedral está meu pensamento
E em todo o teu passado, enfim, terra querida.
--------------------------------------- Salvador, 5 de maio de 1977.
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