sexta-feira, julho 17, 2009

Poesia Contemplada

Entre o amor e a poesia

Singela como toda poesia
E poética como toda calma
Aldaz como o sol dos meus dias,
Amada.

Mais bela que a bela da fera
Mais linda que o ato de adão
Mais fina que a consternação
Alada.

Mais nova que a velha poesia
Bravia igual as ondas do mar
Confusa como uma romaria
Tortuosa como ocasos do amar.

Embora lhe seja perfeita
As noites de mar e luar
Em vão te traço a poesia
Como um desejo sem par
Conforme as razões do meu dia
Conforme o não se conformar...
(Os olhos embotam-se a lágrima
os olhos são olhos e solidão
Os olhos são modos de calma
que acalma a mais quente paixão).

E assim sei nestes novos dias
Poética e póstuma é minha alma,
Pois a paixão é o reverso da poesia
E as poesias são mortes e lástimas,

Então por fim se inicia
O mais novo enlace poético
Como matéria sem alegria
Traço a poesia sem fins magnéticos.

Foi com algum ar de inquietação que Martim leu aqueles versos. Talvez tenha estremecido um pouco e chegou até a ameaçar quedas de lágrimas. Mas conteve-se. Um poeta saído daqueles ares duros e abafados no pregão das madrugadas foi no mínimo inovador. Ele pensou em guardar os versos pra si, olhou pro lado olhou pro outro, mas desistiu. Poeta... Onde já se viu trabalhador com essa capacidade poética, com essa fineza típica dos letrados nas artes da poesia romanesca? Não que ele fosse preconceituoso, mas essa era uma poesia que costumavam altear nos seus tempos de faculdade, quando freqüentava as festas loucas no FFCH e quando amigos lhes mostravam as mais belas (e algumas não tão belas assim) poesias. Mas naquele trabalhador rude e gaiato, propenso às mais esculhambadas pataquadas, não esperava nem um pouco. E aquela consciência do local definido da poesia moderna.... Aquela fineza de vocabulário... Ficou impressionado. Certo que não era a poesia de nenhum Vinicius de Moraes, mas era muito boa. Vinicius de Moraes mesmo teria dito isso, logo ele que era um amante do povo e de sua “Pátria tua” tão pobrinha? Que tinha vontade de nina-la e se orgulhava de torcer pelo (fudido) Botafogo? É, com certeza teria dito isso. No mais ficou feliz de ter um empregado desses, certo que não era seu empregado, mas era de cargo superior (iria comentar isso com seus amigos). Resolveu lê-la de novo, tava pensando se iria comentar com o autor que tinha lido. Era uma poesia bonita e tal, mas à achou mexendo no armário dele e tal... Não ia pegar bem. Certo que não ia dar nada pra ele, mas estava querendo a amizade do seu subordinado e não pegava bem mostrar, mesmo que da sutil forma que se apresentava, esta superioridade. Mas mesmo assim sabia que esse lado hierárquico de suas condições sociais iria circular toda a relação que estabelecessem daqui pra frente. Mas mesmo assim achou melhor guardar a poesia no lugar, se arrummar e ir pra casa. Era melhor assim. Não ia comentar nada com ele.

2 comentários:

Anônimo disse...

Linda! Linda! Bilis
Encantador todos os versos...
- é relmente de se contemplar!
Mas o texto tá meio confuso, vou ler de novo.

Noemi Silva

Maria Garcia disse...

O que o orgulho não faz, hein? Achei simples e bonita ^__^